domingo, 22 de maio de 2016

[palavras que não existem no dicionário]

acordei 04h da manhã, tinha uma lua cheia tão maravilhosa no céu que minha vontade (como sempre) era de acordar todo mundo pra falar "olha que lua mais maravilhosa!". não sei como a lua cheia brilhante estampada num céu claro sem nuvens não emociona as pessoas a ponto de sorrir sem mais nenhuma razão de ser.

mas eu precisava da ilusão que a lua me dava. eu não acordei a essa hora de bobeira. depois de passar uma noite e um dia inteiros deitada, esperando a vida passar, só te resta acordar e começar a viver quando todos dormem. é mais fácil encarar a vida quando todos dormem. é mais fácil mostrar a cara acabada, amassada pelas lágrimas, o corpo que se arrasta, a mente que não para. quando todos dormem, a vida fica mais simples de ser esquecida. porque não há vida ao redor te mostrando que você fracassou até na mais simples das coisas: seguir em frente.

eu queria tomar um café, mas lembrei que não tem cafeteira, não tem bule, não tem filtro e não tem café. a padaria até está aberta, mas sair de casa a essa hora sozinha é se arriscar em cada esquina. então a gente desiste do café e toma um copo de guaraná pra matar a sede daquele dia inteiro sem beber nem comer nada. e nessa casa nunca tem nada pra comer. não posso reclamar do beber: isso nunca vai faltar. boto umas músicas calminhas e quando menos espero, estou dançando. 04h da manhã e eu acordo para dançar. não é de todo ruim, pelo visto.

esse é o melhor horário para pensar. a cabeça tá descansada, tá fora do espiral de acontecimentos - em que nada de verdade aconteceu, mas como fica o draminha das nossas vidas sem um pouco de tempestade em copo d'água, não é mesmo? essa hora eu penso nas coisas que me incomodam e percebo que nada na verdade incomoda. nada exterior. o que incomoda tá dentro, e essa talvez é a maior dificuldade que enfrentamos quando estamos doentes. o problema é absolutamente nosso, de mais ninguém. isso é ruim. não ter a quem culpar, não ter pra quem apontar o dedo e dizer SEU FILHO DA PUTA, POR QUE FAZ ASSIM? o filho da puta no caso é você mesmo, e não há muito como fugir disso, porque você está em você (às vezes). tem que lidar, apenas.

enfim, nada disso vai fazer sentido quando os outros acordarem. e eu mesma não pretendo mais dormir.

sábado, 21 de maio de 2016

[mas onde quer que eu vá o meu cantinho há de ir]

eu precisava conversar com você, foi por isso que eu te chamei insistentemente

foram tantas informações, tanta coisa que você me disse no outro dia, e eu não estou conseguindo processar tudo sozinha. a única ideia que martela de forma cadenciada na minha mente é: foi pra isso que você apareceu aqui? foi pra isso que você me acordou? era isso que você queria, um passatempo, alguém que te distraísse do seu objetivo principal? alguém que fizesse o tempo correr mais rápido pra você chegar no seu ponto certo? nunca te importou o que eu queria?

não tive ilusões quanto ao fim dessa história, mas eu achava que eu teria algum capítulo no seu livro. não, né, meu amor? não era isso o que você procurava. você precisava de uma vírgula, e eu querendo ser a página inteira. eu querendo ter significado e mal cheguei a ter significância. mas talvez o mais grave de tudo é você ter chegado a explicar tudo, nos mínimos detalhes. não, nem nos mínimos detalhes, porque sequer cheguei a ser isso tudo. querendo ser algo, e nem cheguei a ser mínimo.

mas de verdade, não vou te condenar. o pior de tudo, a parte mais grave, é que não chego a te culpar. a história fui eu quem inventei, eu quem te fiz personagem, e quando muito você chegou a fazer o teste de admissão. eu sempre tive essa mania de escrever, de criar, de inventar, de fazer valer, de acreditar. e eu acreditei em uma história com nossos nomes, meu amor. mas essa história só existiu aqui; aí ela male male merece uma menção. é isso, não é mesmo? foi isso que você quis dizer com "até nunca mais, a gente já deu".

daqui, do meu lado, da minha parte, eu deixo a incredulidade. você me estragou para o futuro, mas nem nunca vai saber que teve essa importância toda. eu vou fingir que tudo segue, nossa amizade segue como se tudo fosse o mais equilibrado, o mais normal, o mais tranquilo possível. nossa história segue sendo tudo que eu fingi que houve, mas tudo o que realmente nunca existiu. foi uma história louca, desgraçadamente louca, mas acabou antes mesmo de começar. e eu só posso te agradecer por isso, porque me evitou um sofrimento que, mesmo não existindo, eu já sofri por inteiro por nós dois. siga tranquilo, meu amor... aqui só resta a paz.

quarta-feira, 18 de maio de 2016

[se ao menos você soubesse]

cansa ser triste. cansa chorar. cansa reclamar. cansa o tédio. cansa a monotonia. cansa estar sempre insatisfeito. cansa cansar. cansa esse estado de lamentação eterna. cansa não saber explicar. cansa cansar os outros. cansa a rotina e cansa o esforço descomunal que precisa fazer pra sair dela. cansa todos os esforços. cansa a falta de normalidade e a normalidade. cansa sorrir pra dar uma quebrada na reclamação usual. cansa fingir. cansa aceitar. cansa renegar. cansa procurar ajuda. cansa ajudar. cansa ter medo. cansa dormir. cansa estar acordado. cansa beber. cansa fumar. cansa assistir sempre a mesma coisa. cansa tentar. cansa não tentar. cansa desistir. cansa prometer. cansa cumprir. cansa arrumar. cansa deixar. cansa tudo e nada cansa.

a única constante é o cansaço. o resto a gente vai encaixando entre o que cansa bem, o que cansa mal e o que a gente deixa passar.

segunda-feira, 16 de maio de 2016

[subiu a construção como se fosse sólido]

estamos em construção.

em geral o público só percebe os reparos externos, e por isso às vezes parece que já estamos prontos para enfrentar a vida. mas a verdade é que internamente, a bagunça é constante. sempre tem um piso quebrado que precisa trocar, uma demão de tinta em algum quarto escondido (só percebemos que a tinta descascou quando resolvemos acender a luz), um ou outro móvel que precisa ser trocado. e por mais dor de cabeça que essas pequenas reformas acabam dando, elas são necessárias, não dá pra fugir.

fica uma bagunça, claro. por mais que a gente tente limpar cada vez que uma parede se quebra, fica sempre um pouco de poeira. é uma obra que parece não ter fim. mas que pode ser divertida. afinal, quem não gosta de ver a casa renovada? quem não fica maravilhado quando percebe que a cozinha ficou muito mais clara com o novo azulejo? ou que a sala parece maior só porque mudamos o sofá de lugar? esses reparos, pequenos ou grandes, são cansativos, mas na hora que fica pronto aquele pequeno pedaço de vida, a gente respira aliviado.

são muitas as vezes que eu fico com ódio dessa obra. muitas. é cansativo, o tempo todo ter que modificar aqui e ali. dói porque, como só vemos a nossa obra, e não temos acesso às obras internas de cada um, a gente vê o sorriso estampado no rosto do amigo e pensa "por que minha reforma não é tranquila como a dele(a)? por que parece que eu não consigo botar a casa em ordem, e a de todo mundo está lá, certinha, como já deveria ser desde sempre?" mas não nos iludamos: todos estão em construção. todos estão arrumando o próprio barraco. ninguém está pronto.

às vezes vacilo um pouco no meio da reforma. deixo tudo de pernas pro ar, sento no sofá e fico olhando e pensando - e agora? tudo parece tão sujo, tão empoeirado, é piso quebrado pra tudo quanto é lado, não tem um único cômodo que esteja 100%, chega. quero só deitar aqui no cantinho e esperar a obra se acabar sozinha, como que por milagre. mas não adianta. acordo no dia seguinte e tá tudo lá, exatamente igual. eu sou pedreira de mim mesma. não posso esperar o milagre. não posso esperar que alguém venha de fora e termina a minha reforma. é hora de pegar minhas próprias ferramentas e acabar com essa obra o quanto antes.

aí chega uma hora em que você acha que finalmente! tudo tá pronto, tudo do jeito que eu queria, estou feliz, bora chamar os amigos pro open house. tudo é festa, tudo é alegria, mas quando os amigos se vão, você percebe que queria o quarto azul e a sala rosa. lá vamos nós de novo para mais planejamento, mais gastos, mais mudanças.

é preciso dar valor mesmo à toda sujeirada que a reforma faz. com a poeira a gente aprende que tem que cobrir o chão antes de começar a quebrar o azulejo. aprende que tem que fechar a porta do quarto pra poder lixar a parede do corredor, e evitar que a sujeira vá toda pra cama. paradoxo, mas real: a sujeira ensina a ser evitada.

estamos em constante reforma. mas não por isso temos que lidar sempre com o mesmo entulho.

domingo, 15 de maio de 2016

[nem vem de garfo, que hoje é dia de sopa]

não é de todo ruim. parece que é porque em geral quando a gente se reúne é só reclamação, mas realmente não é de todo ruim.

tem umas contas pra pagar? tem.
tem umas neura meio louca de que a gente não tá no caminho certo? tem.
tem uns chefe chato, ou uns chefes incompreensíveis, ou umas chefes que não sabem nem o que estão fazendo ali? tem.
tem problemas de relacionamento com a família, com os amigos, umas coisas bem de adolescente que a gente fica com cara de q? tem.
tem ônibus lotado, metrô lotado, vizinho chato que liga a furadeira no sábado 08h da manhã? tem.
tem o marido/namorado maluco? ou a namorada/esposa difícil de lidar? tem. tem o síndico que acha que você tá fazendo barulho demais depois das 22h, ainda que o único barulho no seu apartamento nesse horário seja da sua respiração? tem.

a gente passa a adolescência e aquela fase esquisita e sem nome entre os 20 e os 30 anos querendo ser adulto, porque depois dos 30 tudo vai se ajustar. porque os adultos sabem o que fazem. porque os adultos são donos de si e da razão. porque os adultos parecem tão centrados e realizados e contentes com todas as escolhas que eles forçam a gente a fazer quando se tem 18, 20 anos. cara, quero ser adulta logo porque ser adulto é o máximo.

daí vem essa listinha de coisas ali em cima que não estavam no contrato de "quero ser adulto" que nos forçam a assinar. nada disso, a gente queria o apartamento próprio, a carreira maravilhosa, o amor pra vida toda, o carro na garagem. todos esses pormenores não fazem parte do pacote que os seriados da adolescência nos mostravam. daí é até normal você acordar num domingo preguiçoso e pensar se não existe uma cláusula do contrato que te permita revogar ele por inteiro e voltar pro colo da mamãe.

te adianto: não, o contrato é isso aí mesmo, ninguém mandou você não ler as letrinhas miúdas.

mas acredite no que eu disse logo no começo disso tudo: não é de todo ruim. tem umas coisas boas. se você paga contas, é porque você as faz. e se você está podendo fazer contas, alguma coisa dessa vida você está aproveitando. as neuras que batem de vez em quando é porque a gente ainda tem umas dificuldades em parar e apreciar aquilo que tá acontecendo naquele momento à nossa volta. ou simplesmente respirar. não há absolutamente NADA mais importante nessa vida do que respirar. o chefe tá chato? seja adulto e converse com ele sobre o que te incomoda. se você acha que realmente está sendo injustiçado, reclame. "ah, mas eu vou perder o emprego". ÓTIMO! assim você mexe essa sua bunda mole pra procurar algo que te faça mais feliz (e que tenha um chefe mais legal).

a família, os amigos e o amor da sua vida estão nesse mundo para somar, não para atrapalhar. vale a mesma prerrogativa: tá te enchendo o saco? fala "OW, PARA UM POUQUINHO!". dê um tempo pra você, vai passear sozinho e ver se ficar isolado é tão melhor do que ter essa gente louca por perto.

sobre o síndico: da próxima vez que ele reclamar, simplesmente diga "ah, tá bem". e vai seguir sua vida. ou acate a reclamação dele e faça mesmo menos barulho. uma das coisas mais maravilhosas em ser adulto é que a gente aprende finalmente que pode errar. tá tudo bem, somos humanos e humano erra. e melhor do que aprender que somos humanos, é aprender a assumir seus erros

e de preferência, corrigí-los.

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

nem cinco minutos guardados

acendo um cigarro antes de dormir.

esse seria o momento em que eu ficaria rolando na cama de um lado para o outro pensando novamente, assim como passei o dia inteiro pensando, porque eu faço as mesmas coisas comigo mesma e ainda espero que a vida um dia seja legal e faça algo diferente por mim. nunca vai acontecer. enquanto eu continuar repetindo os mesmos padrões de relacionamentos (amizades, profissionais, familiares e amorosos), as coisas vão continuar acontecendo da mesma forma.

qual é o seu problema, ana paula? você tem tanto ódio de você mesma que precisa sempre procurar as relações mais destrutivas, aquelas daonde o outro sai muito bem e você sai acabada?

penso em mudar. amanhã farei tudo diferente. amanhã eu vou sorrir para um estranho, amanhã eu vou procurar uma nova agência para trabalhar, amanhã eu começo um curso, amanhã eu vou procurar meus velhos amigos para tomar uma cerveja e rir da vida, amanhã vou ligar para os meus pais e dizer apenas que estou com saudades, amanhã eu vou te dizer não. mas amanhã, quando eu acordar, eu não vou sequer conseguir levantar da cama. a exaustão que tem sido viver minha rotina não me deixará levantar de imediato. então eu acordo sempre duas horas antes de sair pro trabalho, para dar tempo de lamentar a vida e aceitar o destino.

incrível como eu sempre acabo sendo atraída para aquilo que não posso ter.

talvez eu esteja cansada também de ser alternativa e não ter alternativas. eu estou sempre ali, pronta para ajudar quem precisar. estou sempre disponível para ser um ombro amigo. estou sempre respondendo suas mensagens na hora que elas (raramente) chegam. estou sempre dizendo sim quando pergunta se eu topo alguma coisa. porém eu não posso pedir ajuda, não posso ter meu ombro amigo, as mensagens são respondidas dias depois (quando são) e nunca, nunca, nunca tem ninguém disponível.

é tudo tão merda que eu não sei nem porque ainda estou acordada.

lembrei: tenho medo de começar um incêndio sem querer. apago o cigarro e espero a última brasa se apagar no meio das cinzas. levanto e me deito, fecho os olhos para tudo e volto a ter esperanças.

amanhã é um novo dia.

sábado, 12 de abril de 2014

pra alegria eu peço bis

Todos os dias eu sinto saudades de escrever. Desde que eu terminei a primeira (e pelo visto única) graduação, eu meio que perdi o jeito com as palavras. Eu acabei me afogando no trabalho, acabei tornando ele o centro da minha vida, para não ter que parar e pensar nas coisas que me incomodam na vida, que é, bem basicamente, a vida como um todo. E toda vez que eu escrevia, eu colocava algo de mim e me via forçada a pensar nas coisas que me incomodavam. Então eu resolvi: vou trabalhar. Vou me dedicar a isso. É o melhor que eu tenho a fazer no momento.

E é verdade. O trabalho, nesses últimos dois anos e meio, me ajudou a pensar menos. É tudo muito mecânico, mesmo que não seja tudo exatamente igual todos os dias, é só aquilo que eu preciso fazer, é só naquilo que eu preciso pensar, e pronto. Mas nos últimos tempos (depois da minha viagem de férias, a primeira em cerca de quatro anos), algo voltou a me incomodar. Quando eu não estou no trabalho, eu estou incomodada. A solidão me incomoda, o marasmo me incomoda, a rotina me incomoda. E todo esse incômodo faz os meus dedos coçarem para voltar a escrever. Para voltar a pensar.

Deixei meus pensamentos, minhas ideias e meus sonhos dormindo nesses dois anos e meio. Fiz de tudo para prendê-los numa redoma de vidro temperado, coloquei esse vidro dentro de uma caixa lacrada e joguei essa caixa no fundo do baú do meu cérebro. Sempre que lembrava que isso existia, eu pensava "preciso trabalhar, preciso pagar minhas contas, preciso ganhar dinheiro, preciso crescer na empresa". Eu usei essa desculpa incansavelmente, até mesmo para sair de férias todo ano e apenas dormir durante 20 ou 30 dias. Eu deixei de viver ainda em vida.

Busquei ajuda, claro. Isso não é vida, isso não é jeito de ser feliz. Todo mundo precisa de sonhos, de metas, de desejos na vida. Precisa de coragem pra meter as caras e se decepcionar de novo. Não vou escrever (pelo menos não por enquanto, não é essa a minha intenção no momento) sobre a ajuda que procurei e o que tive de suporte. Basta dizer que mudou muitas coisas em mim. E mudou os poucos relacionamentos que consegui manter nesse período de clausura social e espiritual.

Por fim, vou viver. Vou viver, vou sair, vou viajar, vou conhecer gente nova, vou arriscar, vou meter as caras e me decepcionar, e vou me orgulhar também. E saibam que só vou fazer isso tudo pois todos os dias eu sinto saudades de escrever. Vou matar essa saudade.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

~ espero que depois de tudo isso, a gente possa ser um par ~

eu não mudei. nem um pouquinho. talvez tenha me tornado menos infeliz. talvez não, vou dar certeza à isso. tudo o que me causa dor continua insistindo, todas as minhas manias que tanto incomodam (a você ou a mim mesma) continuam existindo, todos os seus defeitos e seus pequenos desprezos continuam me atingindo, mas eu decidi sofrer menos (um pouco menos) com isso.

eu aprendi a admirar as coisas simples também. aprendi a amar aquilo que eu tenho e aprendi que se eu quiser mais ou melhor, eu tenho que lutar por isso. nada mais vai cair de bandeja no meu colo. foi-se o tempo das facilidades. e aprendi algo bem importante também: não dá pra lutar se você não sabe o que quer. ter a consciência disso é fundamental pra sofrer menos. eu sei que eu sempre te dizia que eu não tinha muita certeza, que eu não sabia direito, que eu estava indecisa... mas no fundo, no fundo, eu ainda achava que sabia, sim. que eu estava apenas fingindo, fazendo charminho. mas hoje eu assumo: não faço a menor ideia. estou por enquanto empurrando com a barriga até firmar minha decisão e aí correr atrás (ou aceitar as coisas como são porque é desse jeito que eu gosto).

é engraçado pensar no quanto você conhece e sabe da minha vida, o quanto eu conheço e sei da sua vida, mas não termos a menor intimidade para dividir um momento de silêncio. não conseguimos ficar em silêncio. e eu aprendi também o quanto é importante ficar em silêncio para se conhecer. não se acanhe, eu achava que me conhecia também, que sabia tudo de mim, mas tinha raríssimos momentos de silêncio comigo mesma. com você, então, parece que o barulho nunca cessa. nunca dá um respiro pra gente tentar pensar nos próximos passos. nunca dá um tempo pra gente ver se é isso mesmo. se é assim mesmo, se somos nós mesmos.

mas na minha essência, naquela coisa que talvez tenha te encantado e te aproximado de mim, eu ainda não mudei. eu sonho demais, eu falo demais, eu acho graça de tudo (meu melhor escudo continua sendo o humor), eu abro de menos, confio de menos, eu me afasto de tudo. eu sou o enigma mais enfadonho que existe na sua vida. porque eu pareço ter algum grande segredo, mas no fundo eu sou isso aqui que sempre esteve na sua frente: alguém com um certo medo, uma certa preguiça, um certo desleixo, uma certa estupidez.

tão estúpida que não importa quanto tempo passe nessa vida, você continua sendo quem vai fazer de mim o que bem entender.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

déjà vu

a vida é meio como qualquer jogo de videogame ou candy crush da vida. algumas fases são mais fáceis, outras são tão complicadas que dá vontade de desistir. mas a vontade de chegar no final e ver no que vai dar é maior. também não teria a menor graça se tudo fosse muito fácil; não ia prender muito a atenção. tampouco seria divertido sendo todas as fases complicadíssimas. provavelmente desistiríamos na primeira delas.

antigamente, quando a gente queria passar de alguma fase e não existia a internet para nos ajudar, a gente tinha que ligar no suporte e pedir um help pra moça ou pro moço do outro lado da linha. eu fiz isso com alexx kidd, lembro bem, na última fase tinha que pular numas pedras do tipo sol, lua, estrela e sei lá o que mais. se errasse o código, era uma vez. a moça que me atendeu no suporte foi muito legal me passando o código correto e então eu pude finalmente salvar o jogo (sequer lembro como era o final).

hoje em dia tem mil e um fóruns na internet que explicam com riqueza de detalhes como vencer cada etapa dos jogos de videogame, que inclusive estão a cada dia mais modernos e realistas. mas e pra vida? como a gente faz pra passar de uma fase que parece não passar? uma fase que a gente até quer passar, mas sabe que lá na frente será tão ou mais difícil do que agora? como sentir vontade de ver o fim do jogo quando ele parece tão previsível?

eu queria que minha vida fosse um jogo de videogame: instruções detalhadas sobre como passar dessa fase, poder pausar, dormir e continuar o jogo um outro dia em que eu estiver mais afim da brincadeira. queria que a vida pudesse mudar do modo very hard pro very easy e eu apenas fosse passando as fases sem sofrer tanto. queria que no meio do jogo a gente pudesse mudar de ideia, de personagem, de história, de rumo.

e queria, acima de qualquer coisa, que eu pudesse mudar o final desse jogo. mas é tão previsível. eu já passei por aqui antes.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

. estranho seria se eu não me apaixonasse por você .

sinal de alerta. faz uns tempos que eu não sinto essa falta de vontade de dormir. essa insônia, velha conhecida, resolveu chegar hoje e trazer o medo de volta. o medo de que eu não tenha fortalecido tanto quanto eu achava que tinha. o medo de voltar a ser a pessoa neurótica que eu era há um ano. medo de não dar conta.

são muitos medos que acompanham um simples "não consigo dormir". mas é que junto com o "não consigo dormir" chegam pensamentos. vários deles. chegam lembranças. numerosas. e chegam as ideias mais estapafúrdias. ideia de voltar, de ir, de ficar, de tentar, de ligar, de esquecer, de insistir. ideias controversas, côncavas e convexas. ideias que me pertencem e que voam para o mundo que é o seu devido lugar. ideias que eu vou ficar remoendo até o raiar do dia, e aí, na hora em que devo finalmente acordar e colocar uma dessas ideias em prática...

eu durmo.